WASSER-BASSIN
 

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MARCO MENDES

DIÁRIO RASGADO

INAUGURA 2 DE DEZEMBRO 2006 -16HOO
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01-12-06

Os bares já fecharam e eu nem sequer saí. Ontem fiquei sem carta, a polícia apanhou-me a passar três sinais vermelhos. Encostei quando percebi que eram eles que vinham atrás de mim. Viram-me tão assustado que até deixaram escapar umas piadinhas enquanto tomavam nota da ocorrência. “Para a próxima beba menos!” Pois sim…


02-12-06

“Muitas vezes acordamos de manhã, começamos a escrever e temos esta experiência: aquilo que escrevemos é tudo menos aquilo em que temos andado a pensar. Descrito com o maior detalhe. De facto, o melhor que alguém consegue escrever parece não ter qualquer relação com os assuntos em que anda a pensar. Há um cálculo inconsciente que parece ocorrer durante o sono. O trabalho faz-se enquanto se dorme; e a disciplina da escrita consiste em não interferir no trabalho que é feito pelo inconsciente.”

Norman Mailer


Esta disciplina que tão bem serviu para Norman Mailer, foi completamente subvertida por autores que ele próprio respeitava, como Burroughs, que escreveram parte da sua obra em estados de consciência muito variáveis, chegando ao ponto de ler com surpresa coisas que não se lembravam de ter escrito, quanto mais vivido ou testemunhado. Essa falta de disciplina pode fragilizar a estrutura de um romance ou duma novela tanto quanto potenciar a definição de um estilo pessoal do autor, livre de alguns mecanismos de auto-censura. Por outro lado, como alguém disse, é tudo uma questão de gestalt. A música de Jimi Hendrix funciona plenamente num outro plano de consciência, que não o mais adequado para compreender e fruir as peças de Mozart ou Beethoven…

O meu trabalho surge como a evocação de um registo, lacónico e esparso, de alguns momentos vividos por mim e pelos meus amigos. A escolha desses momentos não é muito racional, é mais intuitiva, e varia ao sabor de factores demasiado imponderáveis, como não estar a dar nada de jeito na televisão, aparecer um amigo chato para conversar ou a quantidade de dinheiro que tenho na conta bancária. Não serão os momentos mais interessantes, mas são aqueles que, no momento em que reuni as condições para começar a trabalhar, naturalmente se me apresentaram como tema.
Já desenhei e escrevi em todos os estados de espírito que me lembro de ter experimentado, e sempre que revejo um desenho ou um texto, que muitas vezes acaba no lixo, confronto-me com essa minha inconstância, que me reduz bastante as hipóteses de um trabalho longo, continuado, metódico, rotineiro. Ou seja, é frequente trabalhar num estado de sobre-excitação mental ou pelo contrário, na apatia mais profunda. Tanto sou capaz de estar dois dias seguidos de volta de um desenho ou argumento, quase sem dormir ou comer, como passar semanas fazendo absolutamente nada. Nisto a minha “arte” é, como eu, avessa a rotinas e horários laborais. Sou o gajo mais preguiçoso que eu conheço, mas como dizia aquele velho provérbio chinês, não importa o vagar com que andas, desde que não pares. Ora como a Terra continua a girar cheguei à conclusão que mais vale estar quieto. He, he, esta foi boa.
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